AMÉLIA MUGE & MICHALES LOUKOVIKAS
ARCHiPELAGOS / Passagens
X. O QUE AS ONDAS CONTAM
● Ondas do mar de Vigo
● Contas do mar (Bulería de Sines)
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/ENGLISH/ ARCHiPELAGOS • X. SEA WAVES TELLING TALES
/ΕΛΛΗΝΙΚΑ/ ΑΡΧΙΠΕΛΑΓΟΣ • X. ΜΥΘΟΙ ΤΩΝ ΚΥΜΑΤΩΝ
27. Ondas do mar de Vigo / Kýmata mýria tou pelágou
– Martín Codax (adaptado para grego por Michales Loukovikas) / Panagiotis Tountas
• Adaptação: Amélia Muge / Arranjo: M. Loukovikas
Cantiga de amigo galaico-portuguesa com melodia de rebético de Esmirna
Ondas do mar de Vigo, / Se vistes meu amigo? / E ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo, / O por que eu sospiro? / E ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado, / Se vistes meu amado? / E ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amado, / Por que ei gran coidado? / E ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar… Miríades de ondas… Contas do mar…
• Canto: M. Loukovikas, A. Muge / Coro: Rui Vaz • Clarino: Manos Achalinotópoulos
Contrabaixo: António Quintino / Guitarra, tzourás: Dimitris Mystakidis
Guitarra portuguesa: Ricardo Parreira / Ney: Harris Lambrakis / Percussão: José Salgueiro
Violino: Kyriakos Gouventas / Violoncelo: Catarina Anacleto
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● Panagiotis Tountas (1886-1942): famoso compositor grego do início do século XX, provavelmente o melhor representante da ‘escola’ de Esmirna (rebético), seu local de nascimento; viaja bastante pela diáspora helénica; após o incêndio de Esmirna, instala-se em Atenas; trabalha com todas as principais gravadoras na Grécia, sendo responsável pela maioria das gravações da época e, nalgumas delas, assumindo o cargo de diretor artístico. ● Esmirna: cidade helénica da antiguidade, localizada na costa do Egeu, Ásia Menor. Devido à sua posição estratégica tem um crescimento significativo e atinge durante o Império Romano proporções de metrópole. No período otomano a influência grega é ainda tão grande que os turcos lhe chamam Esmirna dos infiéis. Durante meados do séc. XIX, início do séc. XX, a cidade era um importante centro financeiro e cultural do mundo grego. Em 1919, com o fim da 1ª Guerra Mundial, foi atribuída à Grécia, mas em 1922 foi devolvida aos Turcos que incendiaram os quarteirões gregos e arménios, terminando com o carácter multi-cultural da cidade, o centro mais importante do rebético antigo. Os músicos de Esmirna eram influênciados quer pela música do oriente como também do ocidente, devido às várias comunidades europeias ali residentes, principalmente a italiana, criando desta forma a peculiar sonoridade da escola de Esmirna. ● Rebético, tzourás: ver ARCHiPELAGOS • VI. NA TAVERNA DO PORTO. ● Martín Codax (meio do séc. XIII-início do séc. XIV): nascido provavelmente em Vigo, Galiza, é um jogral medieval galego (jogral – do povo; trovador – da nobreza); em 1914 Pedro Vindel, um bibliógrafo, encontra na sua biblioteca, a servir de folha de guarda de um livro, um pergaminho com sete cantigas de amigo sem título (são citadas pelo primeiro verso), que conserva ainda a respectiva notação musical e onde Martín figura como seu autor; durante mais de setenta anos, foram o único testemunho deste tipo de expressão; assim, apesar da pequena quantidade de composições que se conhecem, as cantigas deste jogral são consideradas como das mais importantes da lírica trovadoresca galaico-portuguesa. ● Cantiga de amigo: forma da lírica medieval galaico-portuguesa, composta para ser cantada; com provável origem na tradição (extensa e antiga) do discurso em voz feminina, são inicialmente pertença dos jograis; apropriadas também pelos trovadores, foram-se adaptando a esses diferentes universos (cortês e palaciano versus quotidiano popular e espaços naturais); algumas retomam antiquíssimas temáticas tal como as que se encontram em Safo, evocando a dor da espera de um amor que não chega… Neste Archipelagos, a combinação das Ondas do mar de Vigo, com a melodia de um rebético, resultou numa agradabilíssima surpresa: ambas se encaixam tão bem quanto se pertencessem uma a outra desde sempre; acaso ou ADN cultural? (Teresa Muge)
28. Contas do mar (Bulería de Sines)
– Amélia Muge / Michales Loukovikas, tradicional português
• Arranjo: M. Loukovikas, A. Muge
Este mar – o primeiro
A unir – por inteiro
E as ilhas – são as contas
De um colar – a enfeitar o mar
Contas contas – a contar
Que há sempre outro barco a chegar.No lugar que tem amor / Duas ilhas vão crescer
S’o mar entr’elas der flôr / Tudo pod’ acontecer.Cada hora que vivemos / Entra nas contas do mar
E se há ilhas que não vemos / Estão por nós sempre a chamar.Ondas do mar… Contas do mar… Contas nas ondas do mar…
A-a, a-a, / Contas contas que são um colar – a enfeitar o mar
Contas contas qu’estão a contar – outro barco a chegar.
• Canto: Catarina Moura, Teresa Campos / Coro: Maria Monda, A. Muge,
Coro de crianças, dir. Catarina Anacleto • Acordeão: M. Loukovikas / Clarino: Manos Achalinotópoulos
Contrabaixo: António Quintino / Guitarra: Dimitris Mystakidis / Guitarra de flamenco: Thomás Natsis
Guitarra portuguesa: Ricardo Parreira / Ney: Harris Lambrakis / Palmas: Niovi Benou, T. Natsis
Percussão: José Salgueiro / Piano: Filipe Raposo / Violino: Kyriakos Gouventas
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● Bulería: dança, canto, peça instrumental, do repertório flamenco baseada numa medida de 12 tempos; aceita diversas variações rítmicas, com tendência a ser mais lenta se não for dançada; nasce na segunda metade do séc. XIX, provavelmente entre os ciganos de Jerez; a etimologia é incerta: se tomada como uma deformação de burleías (gracejos), explica o tom jocoso de muitas delas; se proveniente de boléras (dança cantada familiar do bolero), justifica um modelo mais intimista; também se aponta como origem o termo bulla (grito de encorajamento aos músicos); actualmente já não se encontram tantas bulerías com sentido humorístico, mas o lado passional continua a ser importante; dentro dos estilos do flamenco, é aquele que permite maior liberdade de improvisação (música e letra). ● Sines: cidade portuguesa da costa alentejana, local de nascimento de Vasco da Gama, acolhe o Festival Músicas do Mundo (FMM), da iniciativa da Câmara Municipal, um dos maiores eventos deste tipo organizado em Portugal. A Bulería de Sines (Contas do mar) foi composta e apresentada, na sua forma inicial, no FMM de 2012.