ARCHiPELAGOS | Passagens (Crónica)
Amélia Muge | Michales Loukovikas
/ΕΛΛΗΝΙΚΑ/ ΑΡΧΙΠΕΛΑΓΟΣ | Δίαυλοι (Χρονικό)
/ENGLISH/ ARCHiPELAGOS | Passages (Chronicle)
Sobre as ilhas do Egeu | – vem cá fora e vê! –
os anjos batem as asas | espalhando rosas…
Michales Loukovikas
I. REVISITANDO O ARQUIPÉLAGO
1. O arquipélago
(a. Está a Jónia em flor? / b. Onde está Atenas?)
2. Κατολοφύρομαι (Katolophýromae: É tão profunda a dor)
Hélia Correia está nos nossos corações; e no coração deste Archipelagos. A nossa sequência mais longa é quase toda baseada no seu extenso poema A Terceira Miséria, que começa com uma citação de Friedrich Hölderlin do seu poema Pão e Vinho: Para que servem os poetas em tempos de indigência? Seguindo os passos de Hélia, o nosso ponto de partida foi O arquipélago, também deste poeta. Durante uma viagem ao norte de Portugal, onde vivia sua mãe, Maria José, já com 96 anos, Amélia Muge convenceu-a a recitar com ela alguns excertos deste poema. José Martins lá estava para as gravar. Começámos bem… Agora que penso nisso, sinto que foi uma pena que a filha de Amélia, Cristiana, não tivesse participado também: teríamos três gerações a recitar em conjunto!
O arquipélago, como nos lembrou Hölderlin, era originalmente o Mar Egeu e as suas ilhas. Como introdução, acho que não podíamos encontrar melhor melodia para evocar a música do Egeu do que a desta bela canção tradicional, em versão instrumental, mas cuja primeira estância se pode ler acima. Faltava o “toque” português: ao lado do violino de Kyriakos Gouventas, convocámos a guitarra portuguesa de Ricardo Parreira. Excelente combinação!
Depois havia que resolver o problema do mar. Inicialmente, adicionei sons do mar (ondas, gaivotas, etc.), mas Amélia reagiu: Demasiado realista, disse. Então teve uma ideia fantástica: E se fossem vozes em vez de ondas? Eu e José respondemos em coro: Vamos a isso! Esse coral das ondas, concebido pelo José e cantado em coro por Maria Monda (Sofia, Susana, Tânia), Cramol e Teresa Campos, fez-me sentir que não são apenas ondas do mar, mas também esses anjos voando sobre o Egeu espalhando rosas…

Eurípides
Este foi o primeiro, brilhante, florido excerto do poema (Está a Jónia em flor?). Para o segundo, escuro e sombrio (Onde está Atenas?), fiz novo arranjo de uma antiga composição minha (no Ouro do Céu, para poesia de Ares Alexandrou), que abre caminho a Eurípides e à sua tragédia, Orestes. O stasimon Katolophýromae, introduzido por Harris Lambrakis no ney e flauta de bisel, é cantado em grego antigo por um coro composto por Amélia, Andreas Karakotas, Manos Achalinotópoulos, e eu próprio no papel de corifeu. (Escrevemos sobre Eurípides e Orestes na nossa Arquipédia, uma das secções do eBook que acompanha o CD, onde se pode encontrar muita informação complementar sobre o ARCHiPELAGOS. Muito desta informação é também apresentada aqui no nosso blog, se seguirem os links que estão nos títulos de cada sequência).
1. Friedrich Hölderlin (Der Archipelagus, 1800-1801, excertos, adaptação para português: Amélia Muge) | a. Tradicional do Egeu / b. Michales Loukovikas | Arranjo: M. Loukovikas, A. J. Martins
2. Eurípides (Orestes, 408 AEC, fragmentos: estrofe e antístrofe) | Adaptação-Arranjo: M. Loukovikas
II. CANTOS DA ARGILA
3. Embalar meninos, acordar adultos
11. Μάγισσα Θάλασσα (Νέοι Λαοί τής Θάλασσας) | Mar feiticeiro (Novos Povos do Mar)

Hino hurrita a Nikkal, Ugarit (séc. XIII AEC)
Num navio do tempo /espaço, viajámos um milénio para trás, de Atenas do séc. V AEC. até Ugarit, Síria, c. 1400, para ouvir um Hino hurrita. Na verdade, depois de Eurípides, não fiquei assim tão fascinado quando o ouvi; mas Amélia quedou-se espantada, pela semelhança com um outro hino, anti-fascista, Acordai!, de José Gomes Ferreira e Fernando Lopes-Graça, escrito por volta de 1946, uma década antes da publicação do hino hurrita. O meu coração oriental, por outro lado, foi sendo tocado por algumas versões do hino no género cromático. O problema era que as mesmas o afastavam de Acordai. Por isso, fizémos duas variações: uma, diatónica, próxima de Acordai (Canção de embalar meninos e acordar adultos), e outra, como lamento diatónico-cromático sobre a tragédia dos refugiados (Mar feiticeiro).
Foi para mim um choque tremendo ver, na orla de uma praia, a foto do corpo de uma criança que se afogou quando a família tentava passar da Turquia para a Grécia. Os meus versos começam com uma frase que ouvi a outro refugiado, em Marrocos, que não conseguiu atravessar o Estreito de Gibraltar para a Espanha: Quando miro o mar, os meus olhos ficam cheios d’água… Que tocante é a interpretação do meu amigo Andreas Karakotas, tele-dirigido por mim: eu em Lisboa, ele em Salónica! Ana Dias, na harpa, criou o pano de fundo apropriado tanto aqui como no tema Utopia (Ilhas Imaginárias).
3. Amélia Muge / José Gomes Ferreira (Acordai!, excerto) | Anónimo (Hino hurrita antigo, fragmento) / Fernando Lopes-Graça (Acordai!, excerto) | Adaptação: A. Muge. Αrranjo: A. J. Martins
11. Michales Loukovikas | Anónimo (Hino hurrita antigo, fragmento) | Adaptação-Αrranjo: M. Loukovikas
III. MACARONÉSIA (Macárōn Nẽsoe: Ilhas Afortunadas)
4. Ali no meio do mar
5. Dança do trigo
6. Um gingado lamento

Cesária Évora
A Macaronésia é composta por quatro arquipélagos no Atlântico norte: Açores e Madeira (Portugal), Canárias (Espanha) e Cabo Verde. O nome deriva do termo grego Μακάρων Νῆσοι (Macárōn Nẽsoe, Ilhas Afortunadas ou Ilhas dos bem aventurados), usado pelos geógrafos para as ilhas Elísias, ilhas a oeste dos Pilares de Hércules (Estreito de Gibraltar), um paraíso terrestre sem inverno. De acordo com Hesíodo, eram os Campos Elísios, habitados por heróis. Estrabão identificou-as com as ilhas das Hespérides.
Gingado Lamento, de Amélia, dedicado a Cesária Évora, tem este toque mágico. Encantou-me, desde a primeira vez que o ouvi. Assim, como o finale da saga da Macaronésia, que é ainda melhor! Nesta sequência são solistas Amélia e Rita Maria (que canta a Dança do Trigo em castelhano) sendo os coros feitos por Maria Monda e por mim.
4. Amélia Muge / Tradicional (Canárias, Açores) | Arranjo: A. J . Martins, A. Muge
5. Amélia Muge / Tradicional (Canárias) | Arranjo: A. J. Martins, A. Muge
6. Amélia Muge | Arranjo: M. Loukovikas, A. J. Martins
IV. PENAS DE AMOR O QUE SÃO?
7. A tentação
8. Δέδυκε ἀ σελάννα / Lua desceu, mergulhou
(a. A lua mergulhou / b. Sentidos divididos / c. Eros)

Safo de Ereso, cópia romana de
um original grego (séc. V AEC)
A Tentação, é, a meu ver, uma das melhores composições de Amélia, feita para este poema de Hélia. Disse-lhe muitas vezes ser uma pena não estar num dos seus álbuns. Pronto, aqui está ela! E em boa companhia: a de Safo.
Graças a Amélia, que teve a ideia de a incluir, pesquisei bastante, lendo a poesia Sáfica; para compor, acabei por combinar três fragmentos:(*) A Lua baixou, Sentidos divididos, e Eros. Além do mais convenci Amélia que conseguiria cantar em helénico antigo – experiência que descreveu depois como… um salto sobre o abismo! Neste “salto” é acompanhada por Rita Maria, Catarina Anacleto e Maria Monda.
(*) Embora a sua poesia fosse bem conhecida e grandemente admirada na antiguidade, quase toda chegou até nós em fragmentos, principalmente por a Igreja cristã desaprovar a sua moral e as autoridades eclesiásticas adorarem queimar as suas antologias…
7. Hélia Correia | Amélia Muge | Arranjo: F. Raposo
8. Safo (em grego antigo e português – adaptação: Amélia Muge) | Michales Loukovikas | Adaptação-Arranjo: M. Loukovikas
V. CANSAÇO DE SER
9. Sono de ser
10. The Hours (As horas)

Fernando Pessoa
Esta sequência é dedicada a Fernando Pessoa. Começa com Sono de ser, outro dos meus temas favoritos, que já tinha sido editado, com outro ambiente musical, no seu CD A Monte. Aqui, o canto de Amélia cria um daqueles raros momentos. É excelentemente acompanhada por Filipe Raposo.
The Hours, um dos Poemas Ingleses de Pessoa, destaca-se também. Compus o tema para Sofia Vitória (CD Echoes, dedicado aos poemas ingleses de Pessoa). Como acabou por não entrar no seu trabalho pude, felizmente, tê-lo aqui com o meu arranjo… heavy metal, reforçado pelo vibrafone de Kostas Hanís e o contrabaixo de António Quintino! Amélia e eu sincronizámos as nossas vozes e o coro (Maria Monda) sintonizou-se connosco.
O modo como compus esta canção foi, para Amélia, fascinante. Durante um dos meus passeios de fim da tarde pela vizinhança, com o The Hours sem me sair da cabeça, lembrei-me do Time dos Pink Floyd com os relógios a tocar logo que a música começa. Decidi então ter um clique de relógios marcando os segundos, os minutos, As horas… Fui acelerando o passo, murmurando as palavras de Fernando e, de repente, a linha do baixo apareceu! Continuei a repetir esta linha até chegar a casa, pois não tinha nada aonde apontar e iria esquecer. Ao chegar, Fernando também me ofertou a linha melódica básica! Trabalhei furiosamente durante… Horas; Só parei quando até o arranjo ficou pronto. Mandei-o imediatamente, felicíssimo, para Amélia…
9. Fernando Pessoa | Amélia Muge | Arranjo: F. Raposo
10. Fernando Pessoa | Michales Loukovikas | Arranjo: M. Loukovikas
VI. NA TAVERNA DO PORTO
12. Versos quaisquer (Pedidos com instância)
13. Ο Νικόλας ο ψαράς (Nicolas, o Pescador)
É a sequência do… fadobetiko (termo cunhado por Amélia). O seu tema, à la fado corrido, é baseado num poema satírico de João de Deus, um dos maiores poetas portugueses do séc. XIX. A introdução, feita por Kyriakos Gouventas, tem um sabor a norte dos Balcãs, em acordo com a referência poética à Transilvânia.

Giorgos Mitsakis (E) and Vasilis Tsitsanis (D)
O trágico Nicolas, o pescador, combina dois dos maiores compositores de rebético: Vasilis Tsitsanis, um dos fundadores do rebético moderno (abrindo o caminho a grandes compositores como Manos Hadjidakis e Mikis Theodorakis); e Giorgos Mitsakis, um hábil compositor e letrista, apelidado de o mestre como tocador de bouzouki.
Muito emocionado (desfiz-me em lágrimas ao cantá-la no estúdio; Amélia e o engenheiro de som, Christos Megas, pensavam que eu me estava a rir…), descrevo a trágica figura de uma mãe vestida de negro que durante meses, de pé, em frente ao mar, aguardava a chegada da pesca de seu filho, Nicolas, sem que ninguém tivesse coragem de dizer-lhe que se tinha afogado… Esta canção também comoveu os portugueses. Falaram-me de outras mulheres vestidas de negro que ainda permanecem de pé, à beira-mar, fixando o longe de olhos vazios…
12. João de Deus | Amélia Muge | Arranjo: A. J. Martins
13. Giorgos Mitsakis | Vasilis Tsitsanis | Arranjo: M. Loukovikas
VII. ILHAS IMAGINÁRIAS
14. Uma ilha, Utopia
15. Penélope de Ítaca
16. Meninos perdidos

Ulisses entre os Feácios, de Jean Broc. Odisseu mostra seu areté físico ao vencer o concurso de arremesso de disco depois de ser desafiado por um atleta Feácio. Muito antes de Platão, Homero
é o primeiro a descrever a Utopia, ou até a Atlântida, que ele chama Esquéria, a terra dos Feácios.
O nosso fascínio pelos lugares míticos e imaginários. Fico contente que acabe musicalmente na Trácia, onde nasci, com esta dança lendária, zonarádikos, onde se destacam Amélia e Maria Monda (vozes), Manos Achalinotópoulos (clarino/clarinete folk) e Harris Lambrakis (ney). Viajamos antes disso pela Utopia de Thomas More (onde Amélia evoca a Caixa vazia de Ares Alexandrou) e ainda por Ítaca de Penélope e Ulisses, para, finalmente, encalharmos na Terra do Nunca, de J. M. Barrie, encontrando não Peter Pan ou Sininho, mas uns muito especiais Meninos Perdidos.
14. Amélia Muge | Arranjo: A. J. Martins, F. Raposo | Dedicado a Ares Alexandrou
15. Amélia Muge | Arranjo: A. J. Martins, F. Raposo
16. Amélia Muge | Tradicional da Trácia, A. Muge | Arranjo: A. J. Martins, M. Loukovikas
VIII. EM TEMPO DE INDIGÊNCIA
17. Sem Deuses
18. Nós
19. Feitiço / Experimentos
20. As ilhas do Egeu
21. A ruína da Grécia
22. Falamos de sombras (Democracia)
23. Um início
Esta sequência tem por base excertos dos poemas de Hélia: Indignação (Nós e Feitiço) e A Terceira Miséria (restantes excertos). N’A Terceira Miséria, poema dedicado à Grécia,(*) começa por citar, como já foi dito no início, Hölderlin: Para quê, para que servem os poetas em tempo de indigência? O poeta alemão é referido várias outras vezes, especialmente quando ela fala de Atenas. Senti-me lisonjeado quando vi o Partenon na capa do livro. Ficou Amélia sem palavras, quando leu o poema. Por tudo isto, esta é a nossa sequência principal.
(*) Como expliquei ao falar de Periplus, nosso trabalho anterior, Hélia é uma entusiástica helenista e filelena, reinterpretando os mitos helénicos e dando destaque a heroínas como Antígona, Helena, e Medeia. Tanto no seu poema maior, A Terceira Miséria, como também na Indignação, ela refere-se aos Argonautas de Jasão, à antiga Ágora das poleis helénicas, à Odisseia de Homero, às Ilhas do Egeu e Ruína da Grécia, aos deuses antigos, Pã e Alexandria, a Péricles e à democracia. Quando foi galardoada com o Prémio Camões (2015), a mais prestigiada distinção do mundo Lusófono, dedicou-o à Grécia, de onde vem a poesia, sem a qual não seríamos nada, nem teríamos nada, como disse na cerimónia de entrega do prémio, exclamando no final: Viva a Grécia! Por tudo isto, é uma tristeza que ninguém tenha publicado A Terceira Miséria na Grécia. Enfim, é a quarta miséria da parte da Grécia moderna…

Friedrich Hölderlin, o poeta fileleno, por Johanna Ebertz (1979)
A citação de Hölderlin em Sem Deuses é repetida em Ilhas do Egeu, numa paisagem sonora completamente diferente. Aqui, depois de muitas experiências, usei como modelo a introdução a Eco, composição de Manos Achalinotópoulos, desenvolvendo-a mais no sentido uma improvisação livre. Como Manos está na nossa equipa, foi possível trabalhar com ele esta ideia, que também teve improvisos de Harris Lambrakis, Amélia e Kyriakos Gouventas. Que prazer, ter aqui Hélia recitando a sua própria poesia!
Nós e A Ruína da Grécia são duas canções gêmeas; os poemas da Hélia são aqui gémeos também! Lembro-me de ouvir dentro de mim a melodia da Ruína desde a primeira vez que li Nós, os ateus, nós, os monoteístas… Depois, mudando o compasso de cinco para seis tempos, rearranjei-a para os versos de Nós.
Para ser sincero, não conhecia quase nada sobre Hölderlin. Tentando saber mais, leio na ficha de informação básica da Wikipedia: “Nascimento – 20 de Março…” (Oh, pensei, no mesmo dia que eu!); “… 1770” (Ena! No mesmo ano de Ludwig!!) Imediatamente a seguir tive uma ideia completamente louca: Bem, e depois? Terceira miséria… Terceira sinfonia! Deixa-me ver… Na verdade, não tinha grandes expectativas. Comecei a entoar a Miséria com a melodia da Marcia funebre de Beethoven no Segundo movimento da Eroica. Principiei com a 25ª parte do poema, “Sim, falamos de sombras”… que me pareceu mais adequada. Fiquei espantado! Mas havia mais melodia. Então, agora vamos voltar atrás e tentar a 23ª parte, “A terceira miséria é esta”… Impressionante! Um pouco mais e terminamos a primeira parte da Marcia, pensei. Esse pouco mais foi encontrado na 32ª parte da Miséria: “Estão as praças como ágoras de outrora”… E o mais fantástico de tudo isto: a melodia de Ludwig acabava com a frase de Hélia: “fervilhante palavra própria da democracia” – Inacreditável!!! UM MILAGRE!..
Procurei a partitura de Beethoven. Tinha adaptado de memória a mesma melodia no meu trabalho O Ouro do Céu; mas desta vez queria ser rigoroso. Meticulosamente rearranjei a partitura, atribuindo as linhas melódicas a outros instrumentos, sem deixar nada de fora (espero). O confronto final veio quando apresentei a minha loucura à Amélia. Como não falo português, só então percebi que várias palavras ou frases estavam fora do lugar, não muito bem adaptadas à música. A ajuda dela neste aspecto foi crucial. Depois, foi a minha vez de a convencer de que não queria aqui uma voz operática – talvez até nem Ludwig a quisesse, ou então, porque teria ele acrescentado Sotto voce sob o título? Queria ter a voz dela habitual. Feito! E estou muito orgulhoso do resultado – mesmo que alguns puristas se possam vir a queixar…
Posso dizer aqui o que disse anteriormente a propósito de Eurípides: Se Ludwig nos pudesse ouvir, espero sinceramente que tivesse sorrido e aplaudido aprovadoramente, apesar das pedradas dos puristas! Participaram também, para lá de Maria Monda, Rui Vaz, José Manuel David e Pedro Casaes no coro, Filipe Raposo ao piano, bem como o meu amigo Kosmás Papadópoulos no clarinete.
O que é que alguém poderia compor depois de tal música? Acho que a Amélia nem sequer pensou nisso – e fez ela muito bem; apresentou uma melodia tão primorosa para Um início, que a coloco ao lado de Ludwig! Considero esta sua composição como a melhor do nosso Archipelagos.
17. Hélia Correia | Amélia Muge | Arranjo: A. Muge, A. J. Martins, M. Loukovikas
18. Hélia Correia | Michales Loukovikas | Arranjo: M. Loukovikas
19. Hélia Correia / A. Muge | Amélia Muge | Arranjo: A. J. Martins, F. Raposo
20. Hélia Correia | Manos Achalinotópoulos, Amélia Muge | Arranjo: M. Loukovikas
Improvisos: H. Lambrakis, M. Achalanitópoulos, A. Muge, K. Gouventas
21. Hélia Correia | Michales Loukovikas | Arranjo: M. Loukovikas
22. Hélia Correia | Ludwig van Beethoven (Terceira Sinfonia, Eroica, 1804, Segundo movimento, primeira parte: Marcia funebre, Adagio assai, Sotto voce) | Adaptação-Arranjo: M. Loukovikas
23. Hélia Correia | Amélia Muge | Arranjo: A. J. Martins, F. Raposo
IX. JÁ SE DÃO AS VOLTAS TODAS
24. Νοσταλγία: Το παράπονο του μετανάστη | Nostalgia: A queixa do emigrante
25. Nostalgia: Cantar de emigração
(a. Sodade / b. Run-Run se fue pa’l norte / c. Cantar de emigração / d. A queixa do emigrante)
26. Alegria

Rosalía de Castro (E) and Violeta Parra (D)
É a nossa sequência sobre migrações e regressos a casa (nostalgia e nostos). Abraçando várias ideias da Amélia, combinei um rebético de Vasilis Tsitsanis (também conhecido pelo título de Como um banido, à deriva), com Cantar de emigração de Rosalía de Castro e José Niza, Run-Run se fue pa´l norte de Violeta Parra e Sodade de Armando Soares. Amélia tinha-me escutado, tempos atrás, a cantar o referido rebético e enviou-me uma adaptação que me lembrou o fado, também aqui incluída como instrumental. Além disso, estou muito feliz por ter connosco representantes dos quatro coros femininos que Amélia convidou para o projeto De Viva Voz (emocionei-me tanto neste concerto!): Cramol, Maria Monda, Catarina Moura (Segue-me à Capela) e Teresa Campos (Sopa de Pedra). Ainda Rita, Rui, David, e Pedro, Paló e Mariana Abrunheiro, Amélia e eu próprio – começando esta aventura Como um banido, à deriva…
A sequência termina com outra adaptação de Amélia, onde combina a Alegria de José Saramago com uma excelente melodia do nosso amigo Giorgos Andreou, que aqui também dirige a Orquestra de Cordas Palhetadas de Patras.
24. Vasilis Tsitsanis | Arranjo: M. Loukovikas
25. a. Armando Soares (adaptação: M. Loukovikas) / b. Violeta Parra / c. Rosalía de Castro (adaptação para português: J. Niza) | José Niza / d. Vasilis Tsitsanis (adaptação: A. Muge) | Arranjo: M. Loukovikas, A. Muge
26. José Saramago | Giorgos Andreou | Adaptação: A. Muge, A.J. Martins. Arranjo: G. Andreou
X. O QUE AS ONDAS CONTAM
27. Κύματα μύρια τού πελάγου / Ondas do mar de Vigo
28. Contas do mar (Bulería de Sines)

Exuberância, de Penny Warden
A nossa última sequência começa com outra adaptação de Amélia, combinando uma Cantiga de amigo de Martín Codax, com um rebético de Esmirna de Panaiotis Tountas e que cantamos aqui nas duas línguas. Como na altura estava a trabalhar nas canções de Tountas, Retratos de Mulheres do Rebético, “pintados” com a sua excelente Arte de Modulação, costumava enviar cópias do meu trabalho para a Amélia; no dia dos meus anos, agradeceu-me desta forma, com esta excelente adaptação em forma de presente de aniversário.
O finale é uma peculiar Bulería que compus em Sines, em 2012, quando lá fomos preparar o nosso concerto de apresentação de Periplus, no Festival Músicas do Mundo. Nesse concerto, tocámos esta bulería na sua forma inicial. Daí para a frente mudámos a canção tradicional portuguesa interposta; a que temos agora é mais adaptada à bulería, com um certo sabor espanhol. Eu chamo-lhe pan-ibérica, daí ter combinado a guitarra portuguesa de Ricardo Parreira com a guitarra flamenca de Thomás Natsis. E que bem cantada por Catarina Moura e Teresa Campos, juntamente com Maria Monda, Amélia e, por fim, um coro de crianças. Como Maria Graciete Besse acertadamente comentou analisando o ARCHiPELAGOS:
“O disco começa com uma voz da sabedoria que recita versos de Hölderlin (a mãe de Amélia, com 98 anos) e termina com um coro infantil, desenhando assim um itinerário que se projecta no futuro.”
Desfrutem!
27. Martín Codax (adaptação em grego: Michales Loukovikas) | Panaiotis Tountas | Adaptação: A. Muge. Arranjo: M. Loukovikas (Cantiga de amigo de um dos melhores trovadores medievais combinada com a melodia do maior compositor do rebético de Esmirna)
28. Amélia Muge | Michales Loukovikas, Tradicional Português | Arranjo: M. Loukovikas, A. Muge
Outubro 2017
● Ver também: PERIPLUS | Luso-Hellenic Wanderings (Chronicle) | GIORGOS ANDREOU on ARCHiPELAGOS
| MARIA GRACIETE BESSE on ARCHiPELAGOS | MARIA DO ROSÁRIO PESTANA on ARCHiPELAGOS

ARCHiPELAGOS
Núcleo
Amélia Muge: voz, braguesa, percussão | Michales Loukovikas: voz, percussão, acordeão
António Quintino: contrabaixo | Dimitris Mystakidis: guitarra, bouzouki, baglamás, tzourás | Filipe Raposo: piano, acordeão, teclados | Harris Lambrakis: ney (flauta oriental), flauta de bisel | José Salgueiro: percussão | Kyriakos Gouventas: violino, viola | Manos Achalinotópoulos: clarino (clarinete folk), voz | Maria Monda (Sofia Adriana Portugal, Susana Quaresma, Tânia Cardoso) | Ricardo Parreira: guitarra portuguesa
Convidados (pro-bono)
Ana Dias: harpa | Andreas Karakotas: voz | António José Martins: caixa de música, percussão | Catarina Anacleto: violoncelo, voz | Catarina Moura: voz | José Manuel David: voz | Kosmás Papadópoulos: clarinete | Kostas Hanís: vibrafone | Mariana Abrunheiro: voz | Niovi Benou: palmas | Paló: voz | Pedro Casaes: voz | Rita Maria: voz | Rui Vaz: voz | Teresa Campos: voz | Thomás Natsis: guitarra de flamenco, palmas
Em especial
Hélia Correia: voz falada | Maria José Muge: voz falada | Cramol: Grupo de Canto Tradicional de Mulheres da Biblioteca Operária Oeirense | Orquestra de Cordas Palhetadas ‘Thanassis Tsipinakis’ do Município de Patras | Coro de Crianças, dir. C. Anacleto: Santiago Fantasia, Gabriel Leite, Sophia Van Epps, Ana Pita, Marta Semblano, Patrícia Arens Teixeira
Autores
Amélia Muge | Anónimo Hurrita: (c 1400 AEC) | Armando Soares (1920-2007) | Euripides (c 480-406 AEC) | Fernando Lopes-Graça (1904-1994) | Fernando Pessoa (1888-1935) | Friedrich Hölderlin (1770-1843) | Giorgos Andreou | Giorgos Mitsakis (1921-1993) | Hélia Correia | João de Deus (1830-1896) | José Gomes Ferreira (1900-1985) | José Niza (1938-2011) | José Saramago (1922-2010) | Ludwig van Beethoven (1770-1827) | Manos Achalinotópoulos | Martín Codax (séc. XIII-XIV) | Michales Loukovikas | Panaiotis Tountas (1886-1942) | Rosalía de Castro (1837-1885) | Safo (c 630-570 AEC) | Vasilis Tsitsanis (1915-1984) | Violeta Parra (1917-1967)

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