AMÉLIA MUGE & MICHALES LOUKOVIKAS
ARCHiPELAGOS / Passagens
IX. JÁ SE DÃO AS VOLTAS TODAS
Nostalgia: To parápono tou metanásti (A queixa do imigrante)
Nostalgia: Cantar de emigração • Alegria
/ENGLISH/ ARCHiPELAGOS • IX. NOSTALGIA AND NOSTOS
/ΕΛΛΗΝΙΚΑ/ ΑΡΧΙΠΕΛΑΓΟΣ• IX. ΝΟΣΤΑΛΓΙΑ ΚΑΙ ΝΟΣΤΟΣ
24. Nostalgia: To parápono tou metanasti
(A queixa do imigrante, excerto)
– Vasilis Tsitsanis
• Arranjo: Michales Loukovikas
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Sem nada banido por todos
em terra estrangeira e hostil
viver sózinho sem ninguém, não é viver
aqui tão longe de um abraço de mãe.
Choram aves se lhes falta céu
seca a planta se água não tem
choro eu também, meu lindo amor, por não te ver
são tantos anos sem nunca te esquecer.
• Canto, coro: M. Loukovikas • Acordeão: M. Loukovikas / Bouzouki: Dimitris Mystakidis
Contrabaixo: António Quintino / Flauta de bisel: Harris Lambrakis / Guitarra portuguesa: Ricardo Parreira
Piano: Filipe Raposo / Violino: Kyriakos Gouventas / Violoncelo: Catarina Anacleto
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• Vasilis Tsitsanis, Rebético, Bouzouki: ver ARCHiPELAGOS • VI. NA TAVERNA DO PORTO.
25. Nostalgia: Cantar de emigração
a. Run-Run se fue pa’l norte (excerto)
– Violeta Parra
b. To parápono tou metanásti (A queixa do imigrante)
– Vasilis Tsitsanis
• Adaptação: Amélia Muge
c. Cantar de emigração (excerto)
– Rosalía de Castro (Adaptação para português de José Niza) / J. Niza
Citações: Sodade (Armando Soares) & provérbio português
• Arranjo: Michales Loukovikas, A. Muge
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Sodade / Run-Run se fue…
Sodade / Este parte…
Sodade dess nha terra… / todos se vão…
Quem parte saudades leva, / Quem fica saudades tem.
Este parte, aquele parte, / e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens / que possam cortar teu pão.
Sodade / Run-Run se fue…
Sodade / pa’l Norte… / saudade!
Sodade dess nha terra, sodade!
No sé cuándo vendrá / saudade!
Vendrá para el cumpleaños
de nuestra soledad.
• Canto: Paló, Mariana Abrunheiro, Rita Maria, A. Muge, Catarina Moura, Teresa Campos,
M. Loukovikas / Coro: Maria Monda, Cramol, Rui Vaz, José Manuel David, Pedro Casaes
• Acordeão: M. Loukovikas / Contrabaixo: António Quintino / Flauta de bisel, ney: Harris Lambrakis
Guitarra: Dimitris Mystakidis / Guitarra portuguesa: Ricardo Parreira / Percussão: José Salgueiro
Piano: Filipe Raposo / Violino: Kyriakos Gouventas / Violoncelo: Catarina Anacleto
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• Violeta Parra (1917-1967): nome incontornável da música popular Chilena, mas também de toda a américa latina, desenvolve uma intensa actividade como cantautora, etnomusicologista e folclorista, a que acrescenta a de artista plástica, também inspirada em temas e modos de expressão tradicionais; pioneira da Nova Canção Chilena, recolhe, cataloga, renova e reinventa a tradição musical do seu país, cuja influência se alastra e amplia para além do Chile; compõe ainda temas de cariz combativo e comprometido com a defesa dos oprimidos e explorados (La carta, Rin del Angelito); conjuga um sentido de vida individual e de responsabilidade social solidária, com uma capacidade de expressão poética e musical muito raras (Gracias a la vida, Volver a los 17, Run run se fue pa’l norte); é chamada por muitos de “Mãe do Povo latino- americano” mas é, de facto, uma referência para todo o mundo. • Rosalía de Castro (1837-1885): poeta e escritora galega, é considerada a fundadora daliteratura galega moderna; a sua primeira obra – Cantares Galegos, 1863 – escrita na sua própria língua (quando estava extinta como língua escrita) marca o começo de uma nova era para a poesia de expressão galega, sendo a base do Rexurdimento (“Ressurgimento”) da sua literatura; o feriado local de 17 de Maio (data em que Rosalía assina e dedica essa obra ao município espanhol de Fernán Caballero) constituiu-se, em 1963, como Dia das Letras Galegas. Muitos dos poemas do seu primeiro livro são glosas de cantigas populares, que denunciam a miséria, a pobreza e a emigração massiva a que os galegos (à semelhança dos portugueses) são obrigados a recorrer. A sua obra, por mostrar um lado consciente de si no seu contexto e simultaneamente um outro, desafiador das fronteiras do ser, enquadra-se no movimento romântico. O Cantar de emigração (de que aqui se canta um excerto) corresponde à última parte do seu longo poema ¡Pra a Habana!, traduzido e adaptado para português pelo autor da música, José Niza. • Original do excerto inserido em Nostalgia – Cantar de Emigração: ¡Pra a Habana! (Para Havana!) – Éste vaise i aquél vaise, / e todos, todos se van./ Galicia, sin homes quedas / que te poidan traballar. • José Niza (1938-2011): compositor, médico e político socialista português, deputado da Assembleia da República em várias legislaturas, promove e colabora em diversas iniciativas e diplomas legislativos relacionados com Direitos de Autor, Protecção da Música Portuguesa, Redução do Imposto sobre Importação de Instrumentos musicais, entre outros. É autor da letra da canção E depois do adeus, (uma das senhas desencadeadoras das operações militares do 25 Abril de 1974, que levaram ao final da ditadura em Portugal); compõe Cantar de emigação, com poema de Rosalía de Castro, que adapta para português. • Armando Soares (1920-2007): comerciante da Praia Branca, na ilha de São Nicolau (Cabo-Verde), é autor do tema Sodade, composto nos anos 50 do século XX, na despedida de uns amigos que iam embarcar para S. Tomé e Príncipe, como contratados a prazo, para roças de cacau e de café, onde por norma eram tratados como escravos; o dilema ‘quero ficar’ – ‘tenho de partir’, de todos os emigrantes da pobreza e da esperança, é descrito de modo simples e emotivo em Sodade; após a interpretação de Cesária Évora, passou a ter o valor de representação das gentes e da cultura de Cabo-Verde, com peso de ‘Hino’ não-oficial deste arquipélago.
26. Alegria
– José Saramago / Giorgos Andreou
• Adaptação: Amelia Muge, António José Martins / Arranjo: G. Andreou
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Já ouço gritos ao longe / Já diz a voz do amor
A alegria do corpo / O esquecimento da dor
Já os ventos recolheram / Já o verão se nos oferece
Quantos frutos quantas fontes / Mais o sol que nos aquece
Já colho jasmins e nardos / Já tenho colares de rosas
E danço no meio da estrada / As danças prodigiosas
Alegria!
Já os sorrisos se dão / Já se dão as voltas todas
Ó certeza das certezas / Ó alegria das bodas
• Canto, coro: A. Muge • Guitarra portuguesa: Ricardo Parreira
Orquestra de cordas palhetadas ‘Thanassis Tsipinakis’ do município de Patras
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• José Saramago (1922-2010): escritor português; Prémio Camões (1995), o mais importante prémio literário da língua portuguesa e Prémio Nobel de Literatura (1998); com um estilo comunicativo e vivaz, familiar ao dos contos populares da tradição oral, entende que a melhoria da condição humana passa pela generosidade e a abertura aos sentimentos do amor, pelo que é profundamente crítico de instituições como a Igreja Católica, a União Europeia ou o Fundo Monetário Internacional; defensor intransigente dos Direitos Humanos, a sua vida é marcada por diversas polémicas, uma das quais o leva a ir viver para fora de Portugal (em 1992, o governo português, ordena a remoção do Evangelho segundo Jesus Cristo da candidatura ao Prémio Literário Europeu, alegando ser religiosamente ofensivo); escolhe Lanzarote: uma das ilhas do Arquipélago das Canárias (Espanha), onde fica a morar até ao fim da vida. • Giorgos Andreou (1961): compositor e letrista grego, e também técnico de som; explorou a relação da música grega com as linguagens musicais do ocidente e do oriente; os numerosos ciclos de canções que gravou, são ‘fruto’ dessas pesquisas musicais, em que tanto utiliza os seus próprios textos, como os de importantes poetas e letristas gregos. Colabora com frequência com a Orquestra de Cordas Palhetadas ‘Thanasis Tsipinakis’ do município de Patras. Desde 2000, actua como diretor artístico pro bono do Festival Astypalaia. Compõe música para cinema e teatro. No verão de 2016, apresenta ‘Diário de bordo III’, um trabalho sinfônico com letras tiradas do trabalho, com o mesmo nome, do laureado com o Prémio Nobel, Giorgos Seferis.