AMÉLIA MUGE & MICHALES LOUKOVIKAS
ARCHiPELAGOS / Passagens
V. CANSAÇO DE SER
● Sono de ser ● The Hours (As horas)
/ENGLISH/ ARCHiPELAGOS • V. WEARINESS OF BEING
/ΕΛΛΗΝΙΚΑ/ ΑΡΧΙΠΕΛΑΓΟΣ • V. Η ΚΟΠΩΣΗ ΤΟΥ ΕΙΝΑΙ
09. Sono de ser
– Fernando Pessoa / Amélia Muge
• Arranjo: Filipe Raposo
Bóiam leves, desatentos,
Meus pensamentos de mágoa
Como, no sono dos ventos,
As algas, cabelos lentos
Do corpo morto das águas.Bóiam como folhas mortas
À tona de águas paradas.
São coisas vestindo nadas,
Pós remoinhando nas portas
Das casas abandonadas.Sono de ser, sem remédio,
Vestígio do que não foi,
Leve mágoa, breve tédio,
Não sei se pára, se flui;
Não sei se existe ou se dói.
• Canto: A. Muge • Piano: F. Raposo

Fernando Pessoa, o… ortónimo. Serigrafia de Júlio Pomar.
●
● Fernando Pessoa (1888 – 1935): poeta, escritor, filósofo, ensaísta, crítico literário, dramaturgo, tradutor, editor, publicitário… é descrito como uma das figuras literárias mais significativas do séc. XX, o mais universal e um dos maiores poetas portugueses. Também escreveu em inglês e francês. Escritor prolífico, incorpora dezenas de outros eus, não os chamando de pseudónimos (cujo conceito sente que não capta a vida intelectual independente de cada um deles) mas sim de heterónimos; sendo quatro os que deixaram obra mais significativa e que são mais estudados (Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Bernardo Soares), mostram modos de sentir, de ver e de escrever completamente diferentes uns dos outros; como diz Robert Hass, poeta americano: “Outros modernistas, como Yeats, Pound, Elliot, inventaram máscaras pelas quais falavam ocasionalmente… Pessoa inventava poetas inteiros.”

Pessoa, de José de Almada Negreiros
10. The Hours / As horas
– Fernando Pessoa (poesia inglesa) / Michales Loukovikas
• Arranjo: M. Loukovikas
As horas, estão fartas de ser horas.
Tudo menos isto! dizem.
Não mais, envelhecer crianças, flores e esperanças,
Tirar côr aos lábios e ao cabelo.Degradam, escurecem e matam o belo.
Ao passar e a olhar p’ra trás,
Veem deitado o já acabado
Só choro encontram lá.Assim, dizem, querer ser outra coisa!
Pois julgam saber
Que tudo o que elas levam
Morreu realmente.O que elas ignoram, ao ir tão cegas
É que o roubo é fingido,
Tudo o que é real tem Outro Sentido –
Ai, mesmo o próprio Deus.
• Adaptação para português de Amélia Muge
• Canto: Amélia Muge / Coro: M. Loukovikas, Maria Monda, A. Muge
• Caixa de música: Antonio José Martins / Clarino: Manos Achalinotópoulos
Contrabaixo: António Quintino / Ney: Harris Lambrakis / Percussão: José Salgueiro
Piano: Filipe Raposo / Relógios: M. Loukovikas / Vibrafone: Kostas Hanís
Violin, viola: Kyriakos Gouventas

Homenagem a Fernando Pessoa, de Luis Badosa
(Catalunya, 1944)